AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR: APLICAÇÃO E IMPLICAÇÕES NO RESULTADO DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO SABER.

1ª VERSÃO

INTRODUÇÃO
Este trabalho busca conhecer e compreender a aplicabilidade dos instrumentos de avaliação utilizados por professores no processo ensino/aprendizagem e como esses métodos contribuem para a construção do conhecimento uma vez que o significado de avaliação está relacionado no modelo político pedagógico vigente.
A opção pelo tema deve-se por entender a importância e a necessidade de avaliar corretamente os alunos, especialmente nas séries iniciais, especificamente da segunda série e para questionar o significado da avaliação buscando mostrar que a mesma deve ser um processo para auxiliar no desenvolvimento cognitivo do aluno e não apenas classificatório.
Segundo Luckesi:

A avaliação educacional, em geral, e a avaliação de aprendizagem escolar, em particular, são meios e não fins, em si mesmas, estando assim delimitadas pela teoria e pela prática que as circunstancializam. Desse modo, entendemos que a avaliação não se dá nem se dará num vazio conceitual, mas sim dimensionada por um modelo teórico de mundo e de educação, traduzido em prática pedagógica. (LUCKESI, 1995, p. 28).

Reconhecer as diferentes trajetórias de vida dos educandos implica flexibilizar os objetivos, os conteúdos, as formas de ensinar e avaliar, ou seja, contextualizar e recriar o currículo. Segundo Luckesi (1995), a avaliação tem sua origem na escola moderna com a prática de provas e exames que se sistematizou a partir do século XVI e XVII, com a cristalização da sociedade burguesa.

A prática de avaliação da aprendizagem que vem sendo desenvolvida nas nossas instituições de ensino nos remete a uma posição de poucos avanços. Não tem sido utilizada como elemento que auxilie no processo ensino aprendizagem, perdendo-se em mensurar e quantificar o saber, deixando de identificar e estimular os potenciais individuais e coletivos.

Encontramos em Luckesi (1995), alguns pontos que nos auxiliam a compreender estas questões. O ato de avaliar tem sido utilizado como forma de classificação e não como meio de diagnóstico, sendo que isto é péssimo para a prática pedagógica. A avaliação deveria ser um momento de “fôlego”, uma pausa para pensar a prática e retornar a ela, como um meio de julgar a prática. Sendo utilizada como uma função diagnóstica, seria um momento dialético do processo para avançar no desenvolvimento da ação, do crescimento para a autonomia e competência. Como função classificatória, constitui-se num instrumento estático e freador do processo de crescimento, subtraindo do processo de avaliação aquilo que lhe é constitutivo, isto é, a tomada de decisão quanto à ação, quando ela está avaliando uma ação.

Desta forma, a avaliação desempenha um papel significativo para o modelo social liberal-conservador, ou seja, o papel disciplinador. Os “dados relevantes” que devem ser considerados para o julgamento de valor, tornam-se “irrelevantes”, sendo que o padrão de exigência fica ao livre arbítrio do professor. O professor ao planejar suas atividades não estabelece o mínimo necessário a ser aprendido efetivamente pelo aluno, utilizando-se da “média” de notas, o que não expressa a competência do aluno, não permitindo a sua reorientação. A média então, é realizada a partir da quantidade e não da qualidade, não garantindo o mínimo de conhecimento, (LUCKESI, 1995). Esta prática torna a avaliação nas mãos do professor um instrumento disciplinador de condutas sociais, utilizando-a como controle e critério para aprovação dos alunos, buscando controlar e disciplinar, retirando destes a espontaneidade, criticidade e criatividade, transformando-os reféns de um sistema autoritário e antipedagógico.

A aprendizagem neste contexto, deixa de ser algo prazeroso e solidário, passando a ser um processo solitário e desmotivador, contribuindo para a seletividade social, principalmente para atender as exigências do sistema econômico vigente.
Segundo Hoffmann (1996, p.66):

Quando a finalidade é seletiva, o instrumento de avaliação é constatativo, prova irrevogável. Mas as tarefas, na escola, deveriam ter o caráter problematizador e dialógico, momentos de trocas de idéias entre educadores e educandos na busca de um conhecimento gradativamente aprofundado.

O educador, ao lidar com a avaliação da aprendizagem escolar, deve ter em mente a necessidade de colocar em sua prática diária, novas propostas que visem a melhoria do ensino, pois a avaliação é parte de um processo e não um fim em si e deve ser utilizada como um instrumento para a melhoria da aprendizagem dos educandos. Diz Hoffmann:

A avaliação, enquanto mediação, significa encontro, abertura ao diálogo, interação. Uma trajetória de conhecimento percorrida num mesmo tempo e cenário por alunos e professores. Trajetos que se desencontram, por vezes, e se cruzam por outras, mas seguem em frente, na mesma direção (2005, p. 40).

Para redirecionar a prática de avaliação faz-se necessário assumir um posicionamento pedagógico explícito, com um redimensionamento global das práticas pedagógicas de modo a orientá-la, no planejamento, na execução e na avaliação.

Nesta perspectiva, para que se dê um novo rumo à avaliação seria necessário o resgate da sua função diagnóstica, ou seja, deveria ser um instrumento dialético do avanço, um instrumento de identificação de novos rumos. “Enfim, terá de ser o instrumento do reconhecimento dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos” (LUCKESI, 1995, p.43).

Não há como negar que na avaliação, as disciplinas usam como critério as notas e todas atribuem pesos diferenciados para cada atividade, dependendo do grau de valoração de cada uma, de acordo com critérios estabelecidos somente pelos professores. A avaliação da aprendizagem é feita de forma a classificar o aluno num certo estágio de desenvolvimento.

A partir desta análise, podemos dizer que a prática “dita” como avaliação da aprendizagem, não passa de uma verificação da aprendizagem. Como refere Luckesi (1995), este fato fica claro na escola brasileira, quando observamos que os resultados da aprendizagem têm tido a função de estabelecer uma classificação do educando que se expressa em aprovação ou reprovação.

Nas práticas pedagógicas preocupadas com a transformação, a avaliação é utilizada como um mecanismo de diagnóstico da situação enxergando o avanço e o crescimento e não a estagnação disciplinadora. Sendo assim, para romper com o modelo de sociedade devemos romper com a pedagogia que o traduz. A partir dessas observações, passa a haver uma questão: a avaliação da aprendizagem na prática escolar tem sido um mecanismo de conservação e reprodução da sociedade através do autoritarismo?

A avaliação constitui-se em um momento dialético de reflexão sobre teoria-prática no processo ensino aprendizagem. Nesta perspectiva, além dos aspectos cognitivos, os aspectos de natureza não cognitiva (afetividade, participação, compromisso, responsabilidade, interesse, habilidades e competências) têm que ser considerados.

OBJETIVO GERAL:
Buscar identificar as dificuldades dos professores em compreender e aplicar instrumentos avaliativos eficazes que contribuam para a eficiência no processo ensino/aprendizagem de forma contextualizada procurando levantar hipóteses na busca por soluções para o problema identificado.

OBJETIVO ESPECÍFICO:
Compreender como se dá o método avaliativo no cotidiano escolar e suas implicações no processo de construção do conhecimento uma vez que a avaliação vem se constituindo em instrumento de aprovação/reprovação como uma prática para se alçar ou não o saber e a ascensão social.

Através deste trabalho, poderá nascer a percepção da necessidade que os professores tem de compreender o processo de avaliação, considerando os objetivos, o porquê e como esse processo deve acontecer. Segundo Luckesi, a prática da avaliação escolar apresenta-se, muitas vezes, como um ato ameaçador, autoritário e seletivo, confirmando um processo de exclusão. O ato de avaliar não deve se resumir a instrumentos de provas/exames; estes objetivam apenas verificar o nível do desempenho do educando em determinado conteúdo, classificando-o como aprovado ou reprovado. Uma das principais finalidades da avaliação escolar deve ser a de proporcionar resultados para a reflexão da prática pedagógica dos professores.

Defino a avaliação de aprendizagem como um ato amoroso, no sentido de que a avaliação, por si, é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo. Para compreender isso, importa distinguir avaliação de julgamento. O julgamento é um ato que distingue o certo do errado, incluindo o primeiro e excluindo o segundo. A avaliação tem por base acolher uma situação, para, então (e só então), ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte de mudança, se necessário. A avaliação, como ato diagnóstico, tem por objetivo a inclusão e não a exclusão; a inclusão e não a seleção (que obrigatoriamente conduz a exclusão). O diagnóstico tem por objetivo aquilatar coisas, atos, situações, pessoas, tendo em vista tomar decisões no sentido de criar condições para a obtenção de uma maior satisfatoriedade daquilo que se esteja buscando ou construindo. (LUCKESI, 1995, p. 172)

Ao avaliar, o professor estará constatando as condições de aprendizagem dos alunos, para, a partir daí, prover meios para sua recuperação, e não para sua exclusão, se considerar a avaliação um processo e não um fim.

REFERÊNCIAS:

HADJI, C. Avaliação Desmistificada. Trad. Patrícia C. Ramos.Porto Alegre:Artmed Editora, 2001.
HOFFMANN, J. Avaliar para Promover. 7. ed.,Porto Alegre:Mediação,2005.
_____________Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-escola à Universidade. 8. ed., Porto Alegre : Mediação, 1996.
LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem escolar.São Paulo: Cortez, 1995.

Avaliar para Crecer

No ambiente escolar, a avaliação só faz sentido quando serve para auxiliar o estudante a superar as dificuldades

Paola Gentile

Reflexão

Revista Nova Escola
Edição Dezembro de 2000

"Dar provas, corrigi-las e entregá-las não é mais suficiente para mim. Preciso saber onde estou falhando para planejar o que e como ensinar"
Cristiane Ishihara, professora de Matemática da 5ª série no Colégio Assunção

"É preciso romper definitivamente o estereótipo do mestre com a fita métrica na mão, pronto para medir, julgar e rotular cada um de seus estudantes"
Luiz Carlos de Menezes

Não me preocupei mais em compreender muitas coisas, mas sim em correr atrás de meus pontos, milésimos e décimos de pontos. Assim não foi só comigo. Esta competição é travada entre todos aqueles que querem passar de ano. Principalmente na faculdade isto existe e muito. Afinal, aquele que possui uma melhor nota ou desempenho será o melhor profissional. Será?

Sabemos da pressão aos professores por parte dos pais, mas sabemos também do poder do professor dentro de sua sala de aula e na comunidade ao seu redor. As provas cansativas, e na maioria das vezes usadas como único recurso avaliativo, devem deixar de ser usadas como redes de segurança em termos do controle exercido pelos professores sobre os alunos, pelas escolas e pelos pais sobre os professores e do sistema sobre as escolas. Controle este que parece não garantir o ensino de qualidade que viemos pretendendo, pois as estatísticas são cruéis em relação à realidade de nossas escolas.


" SE NÃO AMO O MUNDO, SE NÃO AMO A VIDA, SE NÃO AMO OS HOMENS, NÃO ME É POSSÍVEL O DIÁLOGO." ( Freire, 1979, p. 94 )